quarta-feira, 5 de julho de 2017

COMO COMPRAR OBRAS DE ARTE

Nicéas Romeo Zanchett 

              A obra de arte pode ter um valor financeiro como um imóvel, uma ação na bolsa ou outro bem de valor, e muitos as adquirem como investimento de segurança. No ano de 2007 a Christies faturou mais de seis bilhões de euros em seus leiloes. Isto vem demonstrar que o mercado de arte sempre se mantém aquecido; este fato se deve provavelmente à insegurança e volatilidade sempre presente no mercado de ações que sempre acompanha a instabilidade ou segurança dos órgãos governamentais e, consequentemente, dos bancos.
              Nos momentos de crise mundial a arte sempre foi um refúgio seguro de investimento.
               Muitos adquirem arte  como prova de bom gosto, distinção social e especialmente para exibi-los aos amigos.  Não me cabe julgá-los, mas apenas constatar o fato e torcer para que, o que hoje é apenas um exibicionismo social se torne uma paixão duradoura. 
                O comprador de arte deve ter em mente os diversos fatores que determinam o real valor de uma obra. 
                Autoria - Quem é o autor? Trata-se de obra típica desse autor? Pertence a uma fase ou momento esteticamente importante de sua evolução artística? É que certos artistas se tornam célebres em razão de determinado tema ou motivo. O pintor Pancétti, por exemplo, era marinhista e, portanto suas marinhas tem mais valor, do ponto de vista financeiro. 
                Qualidade - Trata-se de obra importante do autor? Qual a sua qualidade em relação a outras criações do mesmo autor? 
                 Nenhum artista, por mais famoso que seja, terá produzido apenas obras primas. Há, portanto, que se fixar o melhor e o pior de sua produção e estabelecer ainda os diversos marcos que se colocam entre esses dois extremos. O preço variará muito, dentro de certos limites, segundo a menor ou maior qualidade da obra. 
                 Quantidade - Qual a situação do mercado de arte em relação às obras do autor? Má mais oferta ou mais procura? O preço de uma obra deverá estar na razão direta de sua qualidade e na inversa de sua quantidade. Uma produção abundante, se não controlada por um hábil "marchand"  determinará fatalmente a banalização dos preços. Por outro lado, uma produção por demais escassa terminará por colocar seu autor fora do mercado. 
                  Temas e dimensões - Muitas vezes, obras de artistas bem cotados e com excelente qualidade atingem baixo peço, devido a seu tema ou às suas dimensões. Por exemplo, uma obra com o tamanho da "Batalha dos Guararapes" ou do tamanho da uma caixa de fósforos será sempre de difícil vendagem. Lembremo-nos das palavras de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas."
                   Estado de conservação da obra - Quanto melhor o estado de conservação, maior o preço. Uma obra já restaurada valerá menos que outra íntegra. O estado de conservação de uma obra geralmente é classificado em: a (excelente). b (bom), c (danificado) e D (arruinado) .
 Pequenas restaurações executadas por um profissional consciencioso e capaz não diminuem, a rigor, o preço. É preciso tomar muito cuidado com os falsos restauradores que, infelizmente, no Brasil existe muitos. 
                  Pedigree da obra - sua história - O grau de autenticidade de uma obra é muito importante para se estabelecer seu valor. Seu pedigree é aferido pelas exposições em que tomou parte, nos livros em que foi citada ou reproduzida, nas coleções a que pertenceu, nos museus em que foi exibida e assim por diante. 
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NOTA: Dedico estas informações à memória do meu saudoso amigo Jorge Beltrão que sempre me incentivava e dava orientações artísticas, sempre exigindo que tomasse nota de cada detalhe dos seus ensinamentos. Para quem não conheceu, Jorge Beltrão foi o primeiro e, na minha opinião, o maior marchand do Brasil em sua época. Proprietário da Montmartre Gallery, no Rio de Janeiro, que foi o principal ponto de encontro de grandes nomes da arte brasileira, onde tive o prazer de trabalhar de 1973 a 1979. 
Nicéas Romeo Zanchett 

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