sexta-feira, 28 de julho de 2017

A ARTE MEDIEVAL NA FRANÇA

Nicéas Romeo Zanchett 
                 Seis séculos de quase absoluto  silêncio criador sucederam-se à queda do Império Romano o Ocidente; somente na Itália se continuava, embora esporádica e toscamente, a produzir algo de novo, a escrever, a construir. Na França, a primeira nação européia - excluindo-se a Itália - que criou uma arte própria, surgiram, no século XI, as primeiras igrejas românticas, escuras e maciças, no estilo das basílicas italianas do século IX. Os arquitetos, que aviam olvidado as áureas regras de Vitrúvio -(As construções de imponentes catedrais góticas empenavam, quase sempre, por mutos decênios, as economias citadinas mobiliando legiões de pedreiros, canteiros, escalpelizadores, vidraceiros e escultores.) - tinham sido obrigados a erigir paredes de enorme espessura, para garantir a estabilidade do edifício (que frequentemente ruía devido a erros de cálculo); isto conferia às catedrais românticas aquele aspecto de solidez, que as distingue, ainda hoje, das demais construções. 
                  Os erros serviriam de guia: gradualmente, também  os arquitetos franceses e laboravam seu próprio estilo e elevaram, cada vez mais alto, suas construções, delineando, assim, aquele estilo gótico que tez escola na Europa e que deu maravilhosos exemplos de arquitetura sacra.  Essas catedrais, enormes com relação aos edifícios que as circundavam, absorviam, muitas vezes, por vários decênios, as economias e os trabalhos de uma inteira cidade, chamando de toda a parte escultores, técnicos em vitrais, entalhadores; assim, a par da arquitetura, prosperou, naquela época, na França, a escultura, enquanto bem escasso relêvo teve a pintura, reduzida a bem poucas decorações de altar e preciosas miniaturas de livros, ricas de cores vivas e ingênuos detalhes (basta recordar Dante, que dizia "- quel l'arte ch'alluminare é chamadata im Parisi"). 
                Nascia, naqueles últimos séculos da Idade Média, o idioma francês, produto da fusão de elementos latinos com o primitivo idioma céltico: floresciam, na Provença, delicados poetas, os trovadores, que alegavam as côrtes feudais, com suas elegantes canções, baladas e trovas, acompanhadas suavemente pelo alaúde. Bertrand de Born, Arnaud Daniel, Jaufrée Rudel, Bernarde de Ventadorn, versejadores de aristocrática pureza, que eram conhecidos também nos países vizinhos. Alguns deles estiveram nas côrtes italianas, como Rmbaldo de Vaqueiras, e contribuíram para o impulso da lírica peninsular até então presa aos esquemas latinos.  Naquela época, floresceram igualmente os longos relatos cavalheirescos,  onde se descreviam as proezas dos Pares de Carlos Magno ou dos Cavaleiros da Távola Redonda, narrativas originárias da Bretânia e da Provença, e aquele famoso Romam de la Rose, uma espécie de alegoria de mais de vinte mil versos, composto, nos meados do século III, Guillaume de Lorris e Jeam de Meung e traduzido para o italiano por um tal Durante, que alguns chegaram a identificar com Dante Alighieri. 
                 Essa notável riqueza artística e literária poderia fazer-nos pensar num período medieval gentil e cortês, como os imaginavam os Românticos do século passado; na realidade, porém, como já vimos, arte e literatura eram apanágio dos feudatários, ao passo que a burguesia e a plebe jaziam na mais completa ignorância, sobrecarregadas de taxas e trabalho, contentando-se, quanto à arte, em admirar os arabescos e os anjos esculpidos nas fachadas dos templos, a assistir, na praça das aldeias ou nas ruas das cidades, aos mistérios (espetáculos sacros, representados por atores nômades) ou ouvir, boquiabertos, um contador de histórias, que descrevia as façanhas de Reinaldo ou de Orlando. Mas, já a burguesia começava sua desforra espiritual: as Universidades, surgidas imitando as italianas, criavam, na França uma aristocracia do pensamento, que logo iria contrapor-se validamente àquela das armas.  Alegres e despreocupados, de bolso vazios, os universitários vagavam pela França cantando suas canções e discutindo teologia e direito. Nascia, com eles, a nova Europa, livre das brumas medievais, pronta para receber o vento fresco da Renascença.
                A arte de miniaturar os grandes livros de pergaminho prosperou na França; os livros, escritos a mão, quase sempre sobre pergaminho, eram um gênero de luxo, reservado somente aos nobres e às bibliotecas; esplendidamente miniaturados (uma arte tipicamente francesa) eram, via de regra, verdadeiras obras primas, de valor inestimável. 
                A Sorbona, isto é a faculdade de teologia de Paris, congregava, na Idade Média, a elite da mocidade estudiosa da França. Os moços universitários foram os prisioneiros da renascença francesa. 
  
     

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